terça-feira, 7 de julho de 2009

Pai perfeito e pai com defeito - Flávia Machado

Fico pensando quanto a perfeição também faz mal. E neste sentido, posso falar que pai perfeito faz mal aos seus filhos.Quanta arrogância e quanta exigência eles nos impõe.Um pai perfeito, bonitão, fortão, espertão e 'fodão', e muito chato de ter. Como um filho vai conseguir chegar aos seus pés?Ele é um ídolo, um cara super bacana, super craque em alguma coisa, super admirado pela vizinhança, super requisitado, super profissional, supra-sumo. Pôxa, seria bom ter um pai assim? O filho se sente orgulhoso, admira e se mira nele. Enche-se todo quanto está ao seu lado ou quando falam: "você é filho do fulano". "Ele é muito legal, etc".Mas, depois o filho só vai virando o filho do pai perfeito ou o "filho do fulano", só o pai é reconhecido, só ele aparece. E o filho se culpa de não ser como o pai, o patamar de ser homem está muito alto. Somente mais tarde o filho entende que não precisa ser igual ao pai. Mas, até lá sofre as conseqüências.Há pai perfeito que fica toda hora, desde cedo ensinando ao seu filho: o quê fazer, como fazer e quando fazer. Chute a bola assim! Não quebre o seu carrinho! Faz esta manobra radical no skate! Você não vê que está errado!Parece bobo! Homem, que é homem não faz assim!Se o filho alcançou um objetivo, o pai perfeito olha e não elogia, porque já quer exigir outro objetivo, mais difícil, mais perfeito.Um filho não é sua continuidade, um filho é outra existência.Claro que com influências parentais, mas filho é outra pessoa.O pai com defeito mostra ao seu filho que ninguém é perfeito, que pai também erra, pai não sabe tudo, nem é bom em tudo.O pai com defeito mostra também que não nasceu pronto, que todos os seus êxitos foram um processo, construídos no tempo e na aprendizagem.O pai com defeito ri de si mesmo, fica satisfeito com o que tem e vê a beleza do desenvolvimento do filho.Todo pai tem defeito. O defeito do "pai perfeito" é não reconhecer isso e mostrar toda sua humanidade.

Ser BONZINHO ou ser BOM - Flávia Machado

Todo bonzinho é vaidoso.
O bonzinho se preocupa com a sua imagem. O bonzinho quer ser santo, quer ser adorado.
O bonzinho não é ele mesmo, está sempre de máscara, tem medo de se expor, medo de ser rejeitado.
O bonzinho quer ser o bom, o amável e agradável. Então quer ser o perfeito, o melhor.
O bonzinho não quer errar, não quer ser criticado. Pois ele não sabe lidar com isto. Ele quer conforto, quer estabilidade e controlar as relações.
Todo bonzinho cobra bondade dos outros.
É bonzinho, mas exige o mesmo do outro. Pior, sua bondade parece garantia. Mas não é.
O bonzinho é prisioneiro do outro. Preocupa-se mais com o outro do que consigo mesmo.
O bonzinho se esquece que por mais que faça, sempre o outro vai estar insatisfeito.
O bonzinho se esquece que nunca vai agradar totalmente o outro e que no final fazendo bondade ou não, vai ser cobrado, vai ser criticado.
O bonzinho não invade, respeita, está sempre pronto a ajudar.
O bonzinho é aquela pessoa “água-com-açúcar”. Agrada a todos os gostos, meio em cima do muro, meio toma as dores do outro. Tem dificuldade de interromper uma conversa, sempre atende ao telefone, oferece o que está comendo, empresta dinheiro, dá carona, é fiador, é o bom camarada.
O bonzinho se desculpa por tudo, justifica tudo para o outro, tenta sempre apaziguar, quando ofendido não responde na hora, leva tudo pro lado bom.
O bonzinho se resolve falar mais alto, acelera o coração, fica vermelho e gagueja...e depois se martiriza sobre o mico que pagou.
O bonzinho sempre diz, por favor, dá licença, obrigada, ou então diz: ta tudo bom, ta tudo bem.
O bonzinho se magoa fácil e demora a perdoar. Se autoflagela, se pune diante de um erro, culpa-se por tudo.

Seja verdadeiro consigo mesmo e com os outros. Seja autêntico.
Dá perfeitamente para ser somente BOM e não BONZINHO.

O bom pensa nele em primeiro lugar e pondera com o outro.
O bom ajuda sem exigir nada em troca.
O bom fala a verdade, sem desrespeitar. Mas, fala.
O bom é agradável, sem vestir personagens.
O bom é seguro de si.
O bom é independente, age de forma realista, sem se preocupar com o que os outros vão falar (eles sempre falam mesmo!)
O bom vai direto ao assunto e não deixa pra depois.
O bom busca o crescimento do outro, frustando-o.
O bom sabe dizer o não, o talvez e até o sim, quando concordar realmente.
O bom não se auto agride é coerente com seus sentimentos.
O bom sabe que tem razão e não fica mostrando isso a todo tempo. Não se vangloria, nem se justifica. Não deve nada a ninguém.
O bom é feliz com o pouco, tem poucos amigos, mas verdadeiros.
O bom não salva ninguém, não promete o que não pode cumprir.
O bom é uma pessoa comum, nem melhor, nem pior do que ninguém.
Erra e admite que errou, perdoa e é empático.
O bom reconhece sua humanidade e reconhece a humanidade do outro, vive todos os sentimentos e não se culpa.
Não condena e nem se compara a ninguém.
O bom é livre para ser bom para si e bom para o outro.
O bom é bom na medida certa!

Laços ou Nós Afetivos - Flávia Machado

Toda relação é dinâmica. Relação é a capacidade de estar sempre dando novos laços (re-lação). Muitas vezes, quando estamos nos relacionando afetivamente, parece que estes laços tornam-se nós difíceis de desatar.É comum as pessoas se relacionarem a partir de suas próprias referências pessoais, expectativas e ideais. Porém, o laço vira nó, se este ponto de vista se transforma em uma forma rígida de relação, onde se espera que o outro corresponda a essas expectativas plenamente. É um equívoco esperar no outro a "cara metade" ou a "alma gêmea", como se, ao encontrá-la, nos tornássemos completos, estáveis e seguros. Na psicoterapia existencial o psicólogo remete a pessoa a se compreender em suas relações. E, geralmente quando uma relação afetiva não está indo bem, percebe-se um engano da pessoa em depositar no outro a responsabilidade de sua felicidade ou infelicidade. Isto ocorre porque não estamos acostumados a nos ver como seres únicos, sós e livres no mundo. Solidão e liberdade são temas dos filósofos Heidegger e Sartre, nos quais a psicoterapia existencial se fundamenta. Muitas vezes, procuramos em nossas relações afetivas aplacar a angústia e o desconforto que é assumir a própria existência. E dói muito admitir isso. É mais fácil esperar alguém que nos tire dessa posição solitária e responsável, um alguém que pelo simples fato de nos amar atenderia nossas necessidades e nos completaria como num passe de mágica.A pessoa que escolho para me relacionar afetivamente sempre será uma pessoa diferente de mim. Segundo o psicólogo Jadir Lessa: "Todos somos diferentes uns dos outros. Não é só na impressão digital. Mais ninguém pode ser eu. Exclusivamente a mim cabe ser a pessoa que sou. Mais ninguém além de mim, vê o mundo pelo mesmo ângulo em que eu o vejo. Portanto ninguém pode compreender plenamente outra pessoa"*. Da mesma forma ninguém atenderá à todas as minhas expectativas, porque ninguém é igual a mim. Mais que na aparência, somos diferentes na forma de pensar, sentir e agir. Somente eu sou responsável pela expectativa que tenho. Continuando seu pensamento o psicólogo Jadir Lessa conclui: "O outro quando me ajuda, faz do jeito dele. Não é do meu jeito. Portanto, não me satisfaz plenamente. Só encontro plena satisfação realizando as minhas coisas eu mesmo"*. O mesmo acontece nos relacionamentos afetivos, quando o outro me ama o faz do jeito dele, que não é igual ao meu jeito. E muitos conflitos surgem das infindáveis tentativas de um tentar encaixar o outro no seu jeito de amar. Se a pessoa se deixa encaixar no jeito do outro, então o laço vira nó, enrijece, perde a "folga" que deve existir na relação. Justamente a folga do laço, uma certa distância, que garante que cada um mantenha sua individualidade, reconheça-se e diferencie-se na relação.Se esperamos união (nó) com o outro para o alívio da solidão, a relação poderá ser marcada por ciúmes dependência, exigências, controle, possessividade e perda das singularidades.Uma das características mais marcantes do laço, talvez seja a sua possibilidade constante de se desfazer. O nó não se desfaz tão facilmente quanto o laço. E por isso mesmo, se pensarmos a relação como laço, poderemos perceber que nos relacionamentos de pessoas autênticas e livres, este pode se soltar, não constitui uma ameaça, mas sim, em uma forma de compromisso verdadeiro.A relação deveria ocorrer entre duas pessoas que desejam compartilhar o sentimento mútuo de amor e não compensar faltas e insatisfações pessoais. Somente uma pessoa que se realiza como um indivíduo singular, que enfrenta e aceita a solidão e a liberdade como condições da existência, poderá estar com o outro sem cobranças, amando-se e amando o outro, respeitando as diferenças e assim formando um laço com toda sua harmonia e beleza.
* LESSA, Jadir M. Técnicas Psicoterápicas. Editora da SAEP, Rio de Janeiro: 2000.

Olá a todos que passarem por aqui!!

Olá!!! Através deste espaço poderei compartilhar com vocês meus textos.
Seja bem vindo e leia com o coração aberto. Retenha o que você gostar e o que você não concordar deixe que servirá para outra pessoa pensar.
Toda unanimidade é burra. Cada um sabe da sua verdade!
Mas como é bom poder se expressar e ter um encontro de almas através das palavras.
Tudo de bom pra você!!
Bjos
Flávia Machado